A acção
decorre no japão do século XVI e conta a história de um criminoso de classe
baixa que, devido á sua semelhança com um Senhor da Guerra moribundo, se vê obrigado a aprender os
seus modos e os maneirismos de modo a
poder personificá-lo, sob pena de ser condenado á morte, para evitar que outros
Senhores da Guerra ataquem o clan agora vulnerável.
Akira Kurosawa e os seus samurais |
Drama de
Samurai, realizado por Akira Kurosawa, conhecido no seu país natal como “O Imperador”. Foi ele quem deu a
conhecer ao Ocidente este género cinematográfico único, através de clássicos
como “Os Sete Samurais” (1954), “Yojimbo” (1961) ou “Sanjuro” (1962). Aos 70
anos de idade fez um épico sobre o efeito que o código dos Samurai, ou qualquer
outro tipo de código moral e humano, tem na vida de um qualquer indíviduo.
A
genialidade desta obra resume-se na breve cena com que o filme começa: vêem-se
três homens quase indistinguíveis uns dos outros: Shingen, o seu irmão,
Nobukado, e um ladrão, que Nobukado encontrou por acaso e salvou da morte por
crucificação acreditando que, a ver pela semelhança que ele tem com Shingen,
ainda pode vir a ser útil, o que vem a acontecer quando Shingen é mortalmente
ferido em combate. O clan Takeda decide então usá-lo como “Kagemusha” ou duplo
e fazer acreditar aos seus inimigos que ele ainda está vivo.
Qual é a
ideia de Kurosawa nesta sua obra? A
ideia é mostrar um contraste que existe ao longo do filme entre dois tipos de
cenas: as cenas de batalha e as cenas mais intímas. Nas primeiras, grandiosas e
épicas, carregadas de imagens de beleza indiscritível ( como a marcha das
tropas contra o sol vermelho incandescente; o ataque noturno ao castelo e a
tomada deste; assim como a batalha final, que não é vista mas apenas ouvida e
no final aquilo que vemos são imagens duma carnificina que tanto tem de belo
como de horrível).
Por outro
lado, as cenas íntimas que se passam entre as quatro paredes da sala do trono,
dos quartos, dos castelos, são de cortar a respiração, já que o duplo de
Shingen é testado em reuniões com o seu filho (grande momento cinematográfico
quando lorde Katsuyori, numa reunião do clan, iludindo os seus conselheiros,
lhe pergunta directamente o que deve fazer, a resposta do “Kagemusha” é a que
se esperava de Shingen, tornando ainda mais real e total a perda da identidade),
com o neto e também as suas amantes.
Eles conhecem-no bem e se não se deixam enganar (grande cena quando o neto diz
que o duplo não é o seu avô, mas que depois acaba por o reconhecer), percebe-se
que toda aquela encenação será
completamente desnecessária pois o clan Takeda perdeu o seu “frontman”, a sua
figura principal, o seu líder; o que dá força ao clan é a ilusão criada de que
Shingen ainda existe, está vivo e essa é a sua realidade, e ninguém, como
Kurosawa, mestre na encenação, consegue mostrar tão bem estes contrastes.
Mas em “Kagemusha”
existe ainda uma outra luta que se sobrepõe ao domínio de um homem que se deixa
dominar pela sua própria imagem: a do filho, lord Katsuyori, que, no desejo de
superar a imagem do seu pai, vai conduzir os exércitos do clan Takeda á
perdição total ( numa cena genial, no castelo junto ao lago Suwa, onde repousam
os restos de Shingen, um conselheiro felicita Katsuyori pela vitória obtida e
este queixa-se que a vitória não se deveu a si mas sim á presença do pai,
personificado pelo “Kagemusha”). O próprio duplo, perante a inevitável queda do
clan Takeda, sabe que a sua existência não tem sentido pois os mortos não têm
sombra e, após ser dispensado dos seus serviços, só lhe resta morrer como os
outros, não sem antes, depois da batalha final, procurar, no lago, o corpo
daquele de quem foi sombra durante três anos. Numa das cenas mais assombrosas
desta obra-prima da sétima arte, o realizador, tal como no início, encerra este
épico com uma cena que resume tudo: a cena onde o corpo do “Kagemusha”,
arrastado pela corrente, flutua ao lado do estandarte do clan Takeda, diz-nos
que as ideias e os homens são fruto de um certo tempo e o seu significado
histórico só existe quando ambos acontecem ao mesmo tempo e da mesma maneira.
O Mestre japonês, Francis F. Coppola e George Lucas |
Admiradores confessos do realizador,
Lucas e Coppola aceitaram financiar o resto da produção e ficaram também
responsáveis pela distribuição internacional da obra. Creditados no final da
obra como Produtores Executivos, permitiram que a versão do filme exibida na europa e nos estados unidos fosse
de 179 minutos, que correspondiam exactamente á ideia que o realizador tinha,
cerca de vinte minutos mais longa do que a versão estreada no japão, país que
nunca permitiu que a versão internacional lá fosse exibida, provavelmente por
ter sido completada com créditos internacionais.
Estreado em abril de 1980, o filme foi um enorme sucesso, tanto da crítica como do público que se rendeu á grandiosidade do filme, no japão onde foi nº 1 na bilheteira, fazendo cerca de 26.000.000 de dólares. Um mês depois da sua estreia nacional, o filme foi exibido, com pompa e circunstãncia, na presença do realizador e dos produtores executivos responsáveis pela versão internacional, no prestigiado festival de Cannes. O filme foi um triunfo absoluto no festival, já que recebeu a Palma de Ouro “ex-aequo” com “All That Jazz – O Espectáculo vai Começar”, o filme semi-autobiográfico de Bob Fosse. O filme receberia ainda uma nomeação para os Globos de Ouro, duas nomeações para os Oscares. Em itália o filme foi nomeado para dois prémios “David di Donatello” para melhor Realizador Estrangeiro e Melhor Produção Estrangeira e venceu os dois. Em 1981 receberia o César (oscar francês) para Melhor Filme Estrangeiro.
Nota: as imagens e vídeo que ilustram o texto foram retiradas da Internet.
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