sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A Sombra do Vento - O Prazer de Ler




   Se um dia agarrassem em nós e nos levassem a um sítio que desconhecíamos existir, pois nunca tínhamos ouvido dele, do qual podíamos escolher qualquer coisa para nós, mas cuja única condição era não falar dele a ninguém, qual seria a nossa reacção? É desta simples premissa que parte o romance “A Sombra do Vento” da autoria de Carlos Ruiz Zafón.
   Barcelona, 1945, Daniel Sampere, de 11 anos, é levado pelo seu pai até ao Cemitério dos Livros Escondidos, um local misterioso, uma espécie de biblioteca secreta onde, nas palavras do Senhor Sampere, só alguns podem entrar,  para escolher, dentre milhares de livros que ali se encontram, um que irá adoptar e proteger até ao final da sua vida. Daniel escolhe “A Sombra do Vento”, da autoria de Júlian Carax, um autor obscuro, mas cuja história, narrada naquelas páginas, desperta a curiosidade do jovem, que resolve descobrir mais sobre aquele autor. Sem se aperceber disso, com aquela escolha, numa espécie de cerimónia iniciática, Daniel acaba por marcar toda a sua adolescência e juventude.
Existem livros que, pela forma como a história nos é apresentada, conseguem agarrar o leitor logo desde o início. 
   Quando se lê um livro, é como se partíssemos numa viagem rumo ao desconhecido, mas com o intuito de conhecer novos mundos, novas personagens ou novas formas de narrativa e com isso partilhamos a experiência de algo completamente novo e diferente daquilo que estamos habituados. 
   Em “A Sombra do Vento”, Carlos Ruiz Zafón dá-nos essa sensação e mais.  A acção passa-se em dois tempos, duas histórias que, ao longo do livro, se vão interligando uma na outra, de um modo que quase podemos considerar brilhante, até ao “volte de face” final, inesperado mas bastante esclarecedor.
   Logo desde as primeiras páginas, quando Daniel percorre os corredores do Cemitério dos Livros Escondidos e encontra o livro de Carax (ou é o livro que o encontra?), sentimos que estamos perante algo diferente, algo que nos agarra e nunca mais nos larga até ao final da obra.  É como se o leitor se transformasse no próprio Daniel  e passasse a fazer parte daquele universo.
O Cemitério dos Livros Escondidos
   O estilo narrativo é electrizante mas também, tal como o  próprio universo da história, envolvente e misterioso. As personagens cohabitam numa Barcelona pós Guerra Civil e IIª Guerra Mundial, cenário de instabilidade e insegurança. O leitor (transfigurado ou não), acompanha Daniel na sua odisseia em busca de Julian Carax e de algum significado para a sua vida. Seguimo-lo em correrias constantes e imprevisíveis, paixões corajosas, lúcidas ou delirantes, destruidoras ou aperfeiçoadoras, que acabam por ser os motores que nos movem  e que nos motivam a acompanhar os heróis e vilões ao longo desta história.
   Inspirado no melhor e mais negro de Edgar Allan Poe, mas também  em Agatha Christie e Conan Doyle e com um toque de Arturo-Perez Reverte, compatriota de Ruiz Zafón,  a “A Sombra do Vento” absorve-nos graças aos seus motivos detectivescos, enigmáticos  que se vão tornando cada vez mais negros, mas também onde não faltam algumas doses de humor refinadas, proporcionadas por Fermín Romero de Torres, amigo e conselheiro de Daniel. Letrado, talentoso e habilidoso, Pertencem-lhe alguns dos momentos mais desanuviadores do romance, graças ás pérolas proverbiais que, de tempos em tempos, atira em momentos vulgares, que aliviam o tom intenso da história.
O autor, Carlos Ruiz Zafón
   Publicado em 2001, “A Sombra do Vento”, foi traduzido em mais de 30 idiomas e publicado em mais de 45 países, e já vendeu mais de 6,5 milhões de exemplares. Juntamente com “O Jogo do Anjo”, publicado em 2008, onde novamente nos cruzamos com cenários e personagens de “A Sombra do Vento”, apesar de não ser  uma continuação do anterior, mas sim uma nova história centrada no universo dos livros,  e “O Prisioneiro do Céu”, de 2011, que, de acordo com o próprio autor, é, sim, a continuação do romance de 2001,  constituem uma trilogia que pode ser lida em qualquer ordem, sem se perder o entendimento da obra como um todo.
    Um livro escrito por quem gosta de ler, para todos aqueles que gostam de ler e que nunca esqueceram o prazer que se pode tirar da leitura dum bom livro.
 Foi para estes que Carlos Ruiz Zafón escreveu “A Sombra do Vento”...todos aqueles  que não se reveêm no parágrafo anterior,  nem vale a pena abrirem o livro porque este de nada lhes servirá...

   

Sem comentários:

Enviar um comentário

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...