quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Passagem para a Índia - O regresso do grande Espectáculo!


      

                 


    Para fazer frente à constante concorrência da televisão, o cinema criou um subgénero de filmes a que chamou superproduções e que tiveram o seu ponto alto no final da década de 50 e durante a década de 60 do século passado. Algumas superproduções surgiram já fora de tempo, nos anos 80. Foi o caso deste "Passagem para a Índia".
   Adele Quested (Judy Davis) viaja para a Índia na companhia da sua futura sogra, Mrs.Moore (Peggy Aschcroft) para ir ao encontro do noivo Ronny Heaslop (Nigel Havers), adido da embaixada inglesa. Quando lá chegam as duas senhoras vão confrontar-se com diferenças culturais que irão influenciar o seu comportamento, essas diferenças irão ser determinantes nos acontecimentos decorrentes dum passeio organizado às grutas Marabat.


   O filme é baseado no romance homónimo de E.M.Forster, escrito em 1924 e baseado nas suas experiência na Índia, e também na peça teatral de Santha Rama Rau, escrita em 1960 e inspirada pelo romance, ainda a Índia era uma colónia Britânica, e espelha bem as diferenças culturais existentes entre a "Índia real" que Mrs.Moore e Adele querem conhecer e o ambiente Anglicano de Cricket, Pólo, o chá ao final da tarde, que os Britânicos criam para si próprios, num equilíbrio perfeito graças ao argumento escrito num estilo muito claro.
O regresso triunfal de um mestre
   A realização e a adaptação do livro pertenceram a David Lean, veterano realizador e antigo editor, que aqui também se encarregou da montagem, aos 76 anos de idade e depois 14 anos sem realizar, voltou à ribalta com esta superprodução (obra a que a "Times" dedicou nada menos do que dez páginas!)  que, se exceptuarmos, "Gandhi" ( Richard Attenborough, 1982), é o filme que melhor mostra a Índia misteriosa e desconhecida. Lean foi o realizador de obras-primas do cinema como "A Ponte do Rio Kwai", "Lawrence da Arábia", "Doutor Jivago" ou o bonito e muito ignorado "A Filha de Ryan".
Um elenco quase perfeito
    Muito perfeccionista, qualidade que está presente em toda a sua obra e muito particularmente neste filme, Lean torna-o menos misterioso e enigmático que o romance e transformando-o numa obra provocante, cheia de personagens vivas interpretadas, quase na perfeição, por um elenco onde se destacam os nomes de Alec Guiness, Peggy Aschcroft e Victor Bannerjee, adequando-os aos cenários mostrando uma ìndia misteriosa e exótica (ver as cenas do templo em ruínas que Adele visita, ou as grutas Marabar), junta-se uma fotografia excepcional (como na cena da monção, ou aquela em que Mrs.Moore e Dr.Aziz conversam na Mesquita sob o luar que ilumina o rio Ganges), misturamos a banda sonora envolvente de Maurice Jarre (apesar de   não ser uma das sua bandas sonoras memoráveis, ainda assim é um trabalho de fôlego do compositor) e monta-se tudo com a enorme dedicação de quem sabe o que faz. 
   O resultado é uma das melhores adaptações cinematográficas de literatura para o cinema. Lean filma planos belíssimos, sem se importar com a sua duração desde que fiquem como ele quer (como a cena em que um comboio atravessa uma planície numa noite de luar ou toda a sequência da visita às grutas Marabar onde a fotografia brilhante da luz do dia contrasta  com a luz misteriosa das grutas) e consegue que o filme não seja monótono, mas sim uma obra em constante evolução. 
   Nomeado para 11 Óscares da Academia, incluindo nomeações para Melhor Filme e Melhor realizador,"Passagem para a Índia" venceria apenas nas categorias de Melhor Actriz Secundária (Peggy Aschcroft) e Banda Sonora.
   Derradeira obra-prima de um realizador (viria a falecer em 1991), que sempre viveu para o cinema, o soube dignificar com uma série de obras cinematográficas, hoje clássicos, incontestáveis representantes de um certo cinema que fez a sua história na sétima arte.
O regresso triunfante de um mestre a não perder!
  
Nota: todas as imagens e vídeos que ilustram este texto foram retiradas da Internet

1 comentário:

  1. É de facto uma obra imperdível com Lean a despedir-se com um filme que é também uma magnífica viagem a um mundo e uma cultura muito diferente da nossa. Um abraço.

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